Grupo de Economia da Energia

A entrada e os próximos passos dos chineses no setor de petróleo no Brasil

In petróleo on 14/07/2014 at 00:15

Por Edmar de Almeida e Helder Consoli (*)

edmar072014Até recentemente, o Brasil esteve fora do radar das empresas chinesas que vêm empreendendo uma forte expansão internacional. Com a descoberta do Pré-sal e com o consequente potencial exportador de petróleo do país, as empresas petroleiras chinesas passaram a se interessar pelo setor energético brasileiro. Nos últimos cinco anos, todas as quatro grandes empresas petrolíferas estatais chinesas entraram no mercado Brasileiro. Além disso, dada as necessidades de financiamento das atividades de E&P no Brasil, elas passaram a ser vistas como uma importante fonte de liquidez para investir no negócio de petróleo nacional.

O principal drive para entrada no Brasil é a perspectiva de exportação de petróleo para a China. Tendo em vista que estas empresas dominam o downstream na China, sua estratégia é buscar ativos que podem se converter em exportações para a China.

Entrada das Empresas Chinesas no Brasil

Até 2005 a presença chinesa na indústria brasileira do petróleo era muito tímida. A partir deste ano, a Sinopec entrou no mercado brasileiro oferecendo serviços de engenharia e de EPC (Engineering Procurement and Construction). A Sinopec participou da construção de um trecho do projeto GASENE (gasoduto interligando a malha de gasodutos do Sudeste ao do Nordeste).

Em 2009, a empresa participou de um outro negócio importante. A Sinopec assinou um contrato de compra de petróleo da Petrobras por 10 anos que serviu como garantia de um empréstimo de US$10 bilhões do Banco de Desenvolvimento da China para a Petrobras. O acordo estipulou que a Petrobras devia aumentar suas vendas para a Unipec Asia (uma subsidiária da Sinopec) de 150 mil barris por dia no primeiro ano do contrato para 200 mil barris por dia durante os nove anos seguintes. Esse empréstimo à Petrobras foi de suma importância, tendo em vista o momento de fragilidade financeira que a empresa experimentou naquele ano.

Em 2010, incentivadas pela descoberta do pré-sal, as empresas chinesas começaram a comprar participações em empresas de petróleo e gás no Brasil. A Sinopec comprou 40% dos ativos da Repsol Brasil e 30% da Galp Brasil. Em maio do mesmo ano a Sinochem adquiriu 40% do campo de Peregrino, campo em águas rasas cujas reservas recuperáveis são estimadas em 300 a 600 milhões de barris de petróleo pesado, da Statoil na Bacia de Campos (Bloco BM-C-7) por US$3 bilhões. E em 2013 a CNOOC e a CNPC adquiriram, cada uma, 10% de participação do consórcio vencedor do leilão do campo de Libra, cujas reservas são estimadas entre oito bilhões a doze bilhões de boe.

Participação Chinesa na Produção de Petróleo Nacional

A estratégia de compra de ativos e fusões e aquisições contribuem para um rápido aumento da produção de petróleo por parte das empresas subsidiárias ou com participação chinesa. Com esta estratégia, a velocidade de acesso ao marcado é maior. Além disso, a crise financeira internacional criou excelentes oportunidades para as empresas chinesas adquirirem empresas europeias financeiramente fragilizadas e que possuíam ativos e operações no Brasil. Com a aquisição de participações na Repsol Brasil (40%) e da Galp Brasil (30%) por US$7,1 bilhões e US$4,8 bilhões, respectivamente, a Sinopec desponta como a principal Chinesa no Brasil. A Repsol Sinopec surge como uma grande empresa de E&P no Brasil, cujo valor de mercado atinge US$17,8 bilhões. A Galp Energia, por sua vez, possui vinte projetos de exploração e uma forte participação no Pré-sal, atuando nos campos de Lula/Iracema, Iara, Carcará e Júpiter.

A Sinochem por sua vez já tem uma participação importante no mercado Brasileiro, mediante a aquisição em 2010 de uma participação de 40% no campo de Peregrino que é operado pela Statoil, produzindo atualmente cerca de 80 mil barris por dia. Além disto, a empresa está explorando petróleo em cinco blocos na bacia do Espírito Santo.

Como se pode observar na Tabela 1, as Repsol Sinopec, Petrogal Brasil e a Sinochem já produzem cerca de 78 mil barris/dia no Brasil. Esta produção tende a crescer muito rapidamente em função das participações que estas empresas detêm no upstream nacional.

Tabela 1 – Produção de Petróleo e Gás no Brasil por Concessionário em Abril de 2014

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Fonte: Anp

O crescimento da produção das empresas chinesa já pode ser previsto com os ativos atuais das mesmas, principalmente da área do Presal . A Repsol Sinopec detém participação nos campos de Albacora Leste e Sapinhoá (que já estão em fase de produção), Piracucá e Carioca (em desenvolvimento), além da exploração de nove blocos. A participação da Galp nos campos do Pré-sal de Lula/Iracema, Iara, Carcará e Júpiter apontam para um forte aumento da produção da empresa nos próximos anos.

Por sua vez, os 10% de participação da CNOOC e da CNPC em Libra garantem um futuro interessante para a produção das empresas no país. Para isto, espera-se que estas duas empresas chinesas invistam algo em torno de US$ 5 bilhões cada no projeto de Libra.

As exportações de petróleo para a China vêm crescendo na esteira do aumento da participação da produção por parte das empresas Chinesa. É possível observar um aumento da participação do petróleo na pauta exportadora do Brasil para a China. Em 2010, a China superou os Estados Unidos, tornando-se o maior mercado para as exportações de petróleo do Brasil. Enquanto em 2003 as exportações de petróleo representavam apenas 0,5% do valor exportado de petróleo para a China, em 2013 a porcentagem correspondente foi de 8,7%. Apesar disso, dada a posição chinesa como o maior mercado importador de petróleo no mundo, o Brasil representa apenas 2% do petróleo importado pela China. Ou seja, existe um grande espaço para crescimento das exportações Brasileiras para a China.

Gráfico 1 – Exportações brasileiras de Petróleo para a China (US$ bilhões)

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Fonte: China-Brazil Business Council

 Quais podem ser os Próximos Passos Chineses no Setor de Petróleo Nacional?

As empresas chinesas vêm participando nas negociações de compra de ativos no Brasil. Ou seja, o apetite das Chinesas por ativos brasileiros está longe de ter acabado. As empresas chinesas estão capitalizadas e à espreita de oportunidades importantes.

As oportunidades de aquisição de ativos no Brasil não se resumem ao segmento de E&P. Recentemente, as empresas chinesas vêm demonstrando interesse pelo setor de bens e serviços para o setor de Petróleo. Considerando a política de conteúdo local do Brasil, a estratégia de simplesmente exportar bens e serviços da China para o Brasil não é sustentável. Assim, a compra de ativos no Brasil torna-se uma estratégia natural para entrada de empresas chinesas do segmento de bens e serviços nacional. Um exemplo desta estratégia foi a joint-venture entre a Baoji Oilfield Machinery, uma unidade da PetroChina e as empresas Brasil-China Petróleo e Asperbras, formando a Bomcobras, da qual a PetroChina ficou com 34% de participação e as empresas brasileiras ficaram com 33% cada uma. O interesse de empresas chinesas em participar no segmento de construção naval no Brasil também corrobora esta estratégia.

Por fim, vale ressaltar a possibilidade de novas operações de loan-for-oil. Esta é uma opção caso a Petrobras enfrente dificuldades para se financiar no mercado internacional. À medida que o excedente exportador aumente no Brasil, a Petrobras poderá assinar novos contratos de exportação para a China como garantia para empréstimos do Banco de Desenvolvimento da China. Com um grande volume de reservas cambiais acumuladas (cerca de quatro trilhões de dólares), não faltam recursos chineses para empréstimos garantidos por contratos de exportação de petróleo. Somente para a Venezuela o Banco de Desenvolvimento da China já emprestou mais de 50 bilhões de dólares. Por enquanto, a Petrobras vem conseguindo se financiar a taxas aceitáveis, mas traz um certo conforto para a empresa saber que pode contar com esta “carta na manga”.

Assim, parece claro que o futuro do setor de petróleo no Brasil estará cada vez mais atrelado à China. O setor de petróleo nacional já pode ir se acostumando com os chineses porque o jogo só começou.

(*) Helder Consoli é mestrando do Instituto de Economia da UFRJ.

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