Grupo de Economia da Energia

Posts Tagged ‘setor elétrico brasileiro’

O Perigoso Déficit Institucional do Setor Elétrico Brasileiro

In energia on 22/02/2024 at 12:57

Os conflitos e as disputas cada vez mais intensos e sem mediação que travam os interesses presentes no setor elétrico brasileiro apontam claramente na incapacidade das instituições brasileiras de mobilizar os recursos, coordenar as expectativas e gerir os conflitos característicos do grave momento de transição que vive o setor. Esse déficit institucional e suas perigosas implicações são o tema desse Curto-Circuito 45. O programa é apresentado por Ronaldo Bicalho, pesquisador do Instituto de Economia da UFRJ.

O Nascimento do Setor Elétrico no Brasil: A Contemporaneidade como Marco Fundador

In energia elétrica on 20/07/2023 at 11:37

Um traço marcante da evolução do setor elétrico brasileiro é a sua contemporaneidade. A nossa agenda setorial sempre esteve em sintonia com a agenda do setor no mundo. Sempre estivemos na mesma página, na mesma jogada, no mesmo compasso da agenda mundial. Essa atualização da agenda brasileira já estava presente nos primeiros passos na energia elétrica no país. O início do setor elétrico no Brasil e a contemporaneidade desse marco fundador são o tema desse Curto-Circuito 34. O programa é apresentado por Ronaldo Bicalho, pesquisador do IE-UFRJ.

A crise do setor elétrico é estrutural

In energia elétrica on 16/05/2018 at 18:29

Por Ronaldo Bicalho

bicalho052018O setor elétrico brasileiro tem um problema definitivo e grave: o esgotamento do seu modelo tradicional de operação e expansão.

Nesse modelo, baseado na exploração do nosso generoso potencial hidrelétrico, os reservatórios jogaram um papel crucial na regularização das vazões dos rios e, portanto, na redução da exposição das usinas hidrelétricas ao risco hidrológico de não chover o suficiente e, em consequência, não se ter a água necessária para gerar a energia elétrica desejada.

A partir do momento em que fatores técnicos, ambientais, sociais e políticos passaram a restringir a construção de novos reservatórios, a redução da capacidade de regularização e, em consequência, a crescente exposição ao risco hidrológico passaram a fazer parte da agenda de problemas estruturais do setor elétrico brasileiro.

A perda de capacidade de coordenação, advinda do processo de fragmentação institucional iniciada pelas reformas dos anos 1990s, e o peso cada vez maior da intermitência na geração, via a crescente participação das novas fontes renováveis (eólica e solar) e das novas usinas hidrelétricas a fio de água (sem reservatório), aceleraram a deterioração do modelo. Continue lendo »

Reforma do setor elétrico: duvidosa, inadequada e imprópria

In energia elétrica on 14/03/2018 at 11:01

Por Ronaldo Bicalho

bicalho032018A reforma do setor elétrico brasileiro proposta pelo atual governo é duvidosa em termos dos resultados que ela promete entregar, inadequada às peculiaridades físicas e técnicas do nosso setor elétrico e inapropriada às incertezas do momento atual do setor elétrico aqui e no mundo.

A reforma atual representa uma retomada extemporânea das reformas dos anos 1990s, baseadas na liberalização dos mercados elétricos e na privatização das empresas estatais presentes nessa atividade econômica.

Esse retorno ao passado não se justifica em termos da experiência acumulada nos últimos vinte anos tanto aqui quanto no mundo.

A introdução da competição no mercado elétrico, pedra de toque das políticas liberais para esse mercado, baseada na hipótese de que a eletricidade seria uma mercadoria como outra qualquer e que, portanto, o mercado elétrico seria um mercado como outro qualquer, se demonstrou extremamente difícil de ser implementada. Continue lendo »

Protagonismo da geração térmica a gás no Brasil – gás para crescer ou para se desenvolver?

In energia elétrica, gás natural on 08/03/2018 at 13:39

Por Diogo Lisbona Romeiro

diogo032018Nos últimos anos, o gás natural se firmou como a maior fonte de geração termelétrica no Brasil, se constituindo como principal energético complementar à geração hidráulica predominante. O parque gerador a gás conectado ao Sistema Interligado Nacional (SIN) conta com 12,5 GW instalados, com a maior parte da potência concentrada na região Sudeste/Centro-Oeste do país. O protagonismo do gás deve perdurar nos próximos anos, tendo em vista os projetos vencedores nos últimos leilões de energia nova (LEN) e o planejamento indicativo dos Planos Decenais de Expansão de Energia (PDE) elaborados pela EPE.

Enquanto que a demanda de gás para geração termelétrica se amplia, a demanda dos demais segmentos está estagnada desde 2011 em torno de 51 MMm³/d (milhões de metros cúbicos por dia). A malha de gasodutos de transporte também não se expandiu neste período, permanecendo em 9,4 mil km de extensão, espraiada principalmente na costa continental do país. Neste contexto, a expansão térmica já contratada nos últimos LEN, que deve acrescentar ao menos 5,5 GW de potência ao parque gerador, não contribui para a expansão da infraestrutura de transporte, pois as novas centrais serão instaladas principalmente no porto, em novos terminais de regaseificação. Continue lendo »

Impactos da adoção de instrumento de precificação de carbono sobre o Setor Elétrico Brasileiro

In energia elétrica on 16/10/2017 at 14:49

Por Clarice Ferraz

clarice102017Diversas iniciativas ao redor do mundo têm discutido como fazer com que os sistemas econômicos reduzam suas emissões poluentes. No setor elétrico, as discussões existem no nível acadêmico; no nível político, onde são formuladas as políticas a serem seguidas e os instrumentos através dos quais se pretende que os objetivos propostos sejam atingidos; e na esfera econômica, onde os agentes discutem como irão adaptar suas atividades atuais e tomar decisões sobre onde realizarão seus investimentos futuros.

Nesse contexto, a definição da política energética é essencial e prioritária. Somente com objetivos bem definidos podemos escolher os melhores instrumentos políticos para atingi-los e, diante disso, os industriais podem pautar suas futuras decisões de investimento. Assim, por exemplo, a participação da fonte solar deverá continuar a crescer, mas não se sabe se o governo irá incentivar o desenvolvimento de uma cadeia industrial local, a exemplo do que foi feito com a energia eólica. Se a questão for somente incentivar a adoção dos sistemas fotovoltaicos, um incentivo destinado aos consumidores pode ser o mais eficiente. Se o objetivo for desenvolver a indústria localmente, outros tipos de incentivos são necessários. Todo instrumento irá criar distorções então é preciso que se saiba claramente quais são trade offs envolvidos, quem serão os ganhadores e quem serão perdedores, e, sobretudo, quais são as prioridades do governo e da sociedade. Continue lendo »

O setor elétrico brasileiro fora de tempo e lugar

In energia elétrica on 29/09/2017 at 00:46

Por Ronaldo Bicalho

bicalho09207A definição de uma agenda para o setor elétrico brasileiro passa por três movimentos básicos:

Em primeiro lugar, é necessário inserir essa agenda no contexto das grandes transformações estruturais que definem o momento atual do setor elétrico no mundo.

Em segundo lugar, é preciso situar essa agenda no quadro de esgotamento do modelo de operação/expansão do setor elétrico brasileiro baseado na exploração do potencial hidráulico via construção de grandes reservatórios.

Em terceiro lugar, é imprescindível articular as duas agendas representadas pela transição elétrica mundial e pela transição elétrica brasileira, de maneira a estabelecer um horizonte de possibilidades que incorpore as amplas oportunidades abertas pela reestruturação mundial da indústria elétrica em direção às renováveis.

Tanto a transição mundial quanto a brasileira partem do esgotamento das suas bases de recursos naturais tradicionais. Esse esgotamento é gerado fundamentalmente por pressões de caráter político institucional que se traduzem nas restrições ao uso dos combustíveis fósseis e à construção de usinas hidrelétricas com reservatórios. Essas limitações nascem, respectivamente, da necessidade de mitigar os efeitos da mudança climática e de reduzir os impactos socioambientais locais da construção dessas grandes barragens, principalmente na região amazônica. Continue lendo »

A construção de mercados elétricos em perspectiva – Questões para o Brasil

In energia elétrica on 20/09/2017 at 20:50

Por Diogo Lisbona Romeiro

diogo092017O Ministério de Minas e Energia (MME) realizou a Consulta Pública (nº 33/2017) sobre proposta de aprimoramento do marco regulatório e comercial do setor elétrico brasileiro, buscando a sua “modernização e racionalização”. A proposta foi estruturada em torno dos desdobramentos da Consulta Pública nº 21/2016, realizada com o intuito de identificar os desafios para expansão do mercado livre no Brasil. Partindo deste objetivo, as medidas propostas desembocam na expansão do mercado livre como solução para o aprimoramento do modelo setorial.

O preâmbulo da proposta aproxima-se da perspectiva de mudanças traçada pelo relatório “Utility of the Future”, realizado por MIT/Comillas (PÉREZE-ARRIAGA et al., 2016). A penetração das novas energias renováveis variáveis (NER), com custos mais competitivos e impactos mais perceptíveis, a proliferação de recursos energéticos distribuídos (como painéis solares, armazenamento e carros elétricos) e o desenvolvimento de redes inteligentes apontam para mudanças radicais nos sistemas elétricos. Neste horizonte, consumidores ativos e polivalentes – prosumages (consumidores, produtores e armazenadores) nos termos de Green & Staffell (2017) – contestam a centralização que estruturou o setor, ameaçando transformar os ativos constituídos das utilities em ativos irrecuperáveis (stranded assets). O processo de fuga em massa das redes, conhecido por “espiral da morte” – em que a atratividade crescente das soluções distribuídas leva a saída de usuários da rede, elevando as tarifas dos remanescentes e, consequentemente, a taxa de abandono –, pode se acelerar com a passividade da regulação vigente, orientada pelo business as usual. Continue lendo »

O setor elétrico brasileiro jogando xadrez

In energia elétrica on 29/08/2016 at 10:48

Por Renato Queiroz

renato082016O setor elétrico brasileiro nos últimos anos vem driblando o fantasma do apagão. A crise econômica evitou tal situação, pois o consumo de energia elétrica arrefeceu. Mas quando a economia brasileira se recuperar, o sistema elétrico será novamente bem solicitado.

O Operador Nacional do Sistema Elétrico, ONS, revisa periodicamente as previsões da carga do SIN – Sistema Interligado Nacional -, que é o montante de energia requisitado pelo sistema elétrico em um determinado período de tempo, medido em megawatt médio. Juntamente com a Empresa de Pesquisa Energética – EPE – de 4 em 4 meses é divulgado um Boletim de acompanhamento e de previsão para os próximos 4 anos.

O último Boletim é de início do mês de agosto corrente. O documento indica que a carga de energia de janeiro a julho de 2016, comparativamente ao mesmo período de 2015, aumentou em 0,6%. Ou seja, embora não tenha crescido como era previsto anteriormente, não houve a queda como muitos imaginavam. E a recuperação do consumo certamente ocorrerá e pode até ser mais rápida do que os mais conservadores imaginam.

As temperaturas elevadas nos subsistemas Sudeste/Centro-Oeste e Sul e as baixas temperaturas na região sul, em junho, fizeram a carga crescer. O uso de aquecedor e de ar-condicionado pelas residências já levou a uma solicitação maior de eletricidade pela população, mesmo com o crescimento negativo do segmento industrial e do comercial. Se esses segmentos retomarem fortemente as suas atividades, terá que haver oferta de energia. No que se refere às previsões para os próximos 4 anos, considerando o ano de 2016, o crescimento médio anual previsto da carga de energia é  de 3,7% ( ONS/EPE 2016). Continue lendo »

A integração truncada das termelétricas a gás natural no setor elétrico brasileiro

In energia elétrica, gás natural on 19/10/2015 at 00:36

Por Luciano Losekann

luciano102015Até a construção do gasoduto Bolívia-Brasil (GasBol), o gás natural era encarado como um combustível inadequado para a utilização em termelétricas no país, já que sua disponibilidade era limitada, devendo ser orientado para usos mais nobres, como industrial e insumo. Desde então, a difusão de termelétricas a gás natural no Brasil tem alternado fases de expansão e estagnação. Nesse artigo, são identificadas cinco fases. São características marcantes dessa trajetória as dificuldades de conciliar os níveis distintos de maturidade dos setores de eletricidade e gás natural e o papel da Petrobras como fornecedora de combustível e proprietária de termelétricas.

Fase 1 – Perspectivas frustradas – 1997 – 1999

No final dos anos 1990, a perspectiva dominante era de um rápido deslanche de termelétricas a gás no Brasil. A difusão da tecnologia de turbinas a gás em ciclo combinado propiciara ganhos significativos de eficiência e vários países experimentaram um boom de expansão. No Brasil, a liberalização da geração de eletricidade criou a expectativa de que as termelétricas a gás seriam a oportunidade para a entrada de empreendedores privados, já que o prazo de maturação de investimentos é mais curto que o de hidrelétricas. As termelétricas teriam o papel de ancorar o desenvolvimento do mercado de gás, o que era essencial para justificar a construção do GasBol. Continue lendo »

O setor elétrico brasileiro e suas incertezas

In energia elétrica on 05/10/2015 at 00:15

Por Renato Queiroz

renato102015No setor elétrico brasileiro a distinção entre crises no passado e no presente é apenas uma ilusão teimosamente persistente.

A geração de energia elétrica no Brasil foi estruturada com base em usinas hidroelétricas, aproveitando a situação privilegiada do país com grandes rios de planalto, abastecidos por abundantes chuvas tropicais. Hoje, a matriz de capacidade instalada de energia elétrica é bem mais diversificada, mas tem, ainda, a fonte hidráulica participando com mais de 65% (Figura 1).

 Figura 1 – Matriz de capacidade instalada de energia elétrica.

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FONTE: MME – Boletim Mensal de Monitoramento do Sistema Elétrico Brasileiro de julho de 2015

Para escoar toda essa produção de energia elétrica das centrais geradoras aos centros de consumo, uma grande malha de transmissão foi sendo construída bem como inúmeras subestações. O sistema elétrico brasileiro hoje tem 126.652 km de linhas de transmissão instaladas (Figura 2). Continue lendo »

Transição energética e reforma do mercado de eletricidade

In energia elétrica, energias renováveis on 28/09/2015 at 14:20

Por Clarice Ferraz

clarice092015Em suas últimas postagens no Infopetro, Ferraz e Bicalho vêm discutindo o impacto da participação em larga escala das fontes de energia renováveis intermitentes, chamada de “transição energética”. Constatando o inexorável avanço das fontes renováveis nas matrizes elétricas mundial e brasileira, os autores analisaram os impactos que tal transição provoca e sobretudo apontaram a urgência de se adaptar a organização do setor elétrico para que este logre continuar permitindo que se consuma eletricidade “na quantidade que se quer, quando se quer e onde se quer“.

Uma vez apresentados os impactos que a mudança do perfil da oferta provoca, cabe agora estudar os elementos que estruturam a resposta a tais desafios. Em seguida, é necessário verificar se as respostas técnicas e organizacionais que vêm sendo estudadas ao redor do mundo se adequam às particularidades do Setor Elétrico Brasileiro (SEB) e à sua estrutura de financiamento e comercialização.

Como visto anteriormente, a intermitência e a não despachabilidade, características das novas renováveis, afetam a disponibilidade de eletricidade. Assim, para garantir a segurança de abastecimento, é preciso que os sistemas elétricos possuam maior flexibilidade a agilidade de resposta às oscilações da geração. Essa flexibilidade pode ser desenvolvida tanto do lado da oferta como do lado da demanda. Atualmente, as principais opções em oferta de flexibilidade que existem são: Continue lendo »