Grupo de Economia da Energia

Posts Tagged ‘consumo automotivo’

Previsão de demanda de combustíveis veiculares no Brasil até 2025 e emissões de CO2

In etanol, gasolina, GNV on 15/08/2017 at 11:00

Por Niágara RodriguesLuciano LosekannGetulio Silveira Filho 

O segmento de transporte rodoviário brasileiro dispõe de condição única com parcela significativa da frota capaz de utilizar outros combustíveis além da gasolina e do óleo diesel, como etanol, biodiesel e, em menor escala, o gás natural veicular (GNV). Apesar da presença dos biocombustíveis o setor de transportes é responsável por uma grande parcela das emissões dos gases causadores do efeito estufa (GEE) no Brasil, sendo a gasolina responsável por 34% das emissões de combustíveis líquidos e o óleo diesel 62%.

Na 21ª Conferência das Partes (COP21) em Paris, o Brasil assumiu o compromisso voluntário de adotar medidas para reduzir as emissões de GEE em 37% em 2025 e 43% em 2030 em relação as emissões de 2005, com o objetivo de contribuir para que a temperatura média global não aumente 2°C acima dos níveis pré-industriais. Para atender tal objetivo o Brasil estipulou a meta de aumentar a participação de bioenergia sustentável na matriz energética para 18% até 2030, expandindo o consumo de biocombustíveis, o que inclui o aumento da oferta de etanol e biodiesel (MRE, 2015).

Todavia, chama a atenção o expressivo crescimento do consumo de combustíveis para transporte nos últimos anos. O consumo agregado de gasolina e óleo diesel dobrou de 2000 para 2013, crescendo a uma taxa de 4% ao ano (ANP, 2017a), e, apesar da taxa de crescimento da demanda ter diminuído com a crise brasileira, o consumo apresentou crescimento médio superior ao Produto Interno Bruto (PIB) entre os anos 2010 e 2015. Continue lendo »

O carro do futuro IV: os atuais modelos de carros elétricos e o potencial de inserção no Brasil

In energia on 13/06/2016 at 18:19

Por Michelle Hallack e Miguel Vazquez

michelle062016Mesmo com a queda do preço do petróleo, a demanda mundial por veículo elétrico vem aumentando. Embora a variação do preço do petróleo tenha afetado negativamente o mercado de carro elétrico dos Estados Unidos e do Japão, que em 2015 teve uma queda das vendas, o crescimento das vendas em outros países compensou mais que proporcionalmente esta queda.

Figura 1: Venda de Carros Elétricos no Mundo por Mês (2014-2016)

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Fonte: EV volumes.com

Os principais motores desse crescimento foram a China e os países Europeus (em especial Holanda, Noruega, Reino Unido, França e Alemanha), que obtiveram, em 2015, crescimentos relevantes nas vendas de carros elétricos (220% e 99%, respectivamente) [1]. O crescimento desses mercados pode ser explicado por políticas ativas de incentivos tanto do ponto de vista de estimulo da demanda como de financiamentos ao P&D e de investimento em infraestrutura. Contudo, a participação do carro elétrico em relação a frota total de carros é pouco significante, chegando no máximo a atingir pouco mais de 1% na França.

Atualmente está tramitando, em estado adiantado, na Holanda uma proibição de venda de novos carros a combustíveis fosseis em 2025. Isto é, apenas carros elétricos serão aprovados para entrar nas rodovias holandesas a partir dessa data. Regras neste mesmo espírito, só que para 2030, começaram a ser discutidas na Noruega e na Índia[2]. Neste contexto, estima-se que sejam atinjidos 2 milhões de carros elétricos nas ruas já em 2016. Segundo Randall T. (2016) a projeção é que em 2040, 35% dos novos carros poderão ser conectados à rede elétrica, e que em 2022 os carros elétricos já sejam competitivos em grande escala sem nenhum tipo de subsídio. Com indícios do avanço do carro elétrico, aponta-se para uma queda continua dos preços da bateria (que só em 2015 caiu 35%), sendo este, ainda o elemento central na acessibilidade do carro elétrico. Continue lendo »

O carro do futuro I: alternativas e desafios

In energia on 11/11/2013 at 00:25

Por Michelle Hallack e Miguel Vazquez

michelle112013Hoje há uma grande discussão de como será o carro do futuro em diversos aspectos (desenho, funcionalidades, tecnologias, usos…) e certamente esta indústria impactará fortemente no futuro do mercado energético. Atualmente cerca de 20% da demanda mundial de energia advém do setor de transporte, como mais de 90 % desta demanda ainda é concentrada em derivados de petróleo, significa que cerca de 60% do consumo de petróleo mundial depende do setor de transporte[1]. Rapidamente, podemos imaginar o que ocorreria com o mercado de petróleo mundial caso alguma tecnologia substituta realmente consiga deslocar os combustíveis derivados do petróleo.

A distância que estamos deste futuro é uma questão que vale certamente muito mais que um milhão de dólares. Contudo, o que se pode observar é um forte movimento de desenvolvimento de diversas tecnologias alternativas. Algumas destas tecnologias podem se complementar, mas certamente haverá (e já está presente) uma disputa entre as tecnologias por participação no mercado. Por outro lado, os carros baseados em gasolina e diesel buscam inovações para o aumento de eficiência dificultando assim a sua superação. Será que não haverá um carro do futuro, mas sim conjunto de possibilidades? Será que a matriz de combustíveis será diversificada e heterogênea como a matriz elétrica?

Logo, desculpem-nos os grandes amantes das tecnologias automotivas, mas ao contrário do que o título pode levar a crer, não analisaremos a possibilidade de ter os nossos carros dirigidos pelos softwares do Google ou se em breve entraremos voando em um dos carros dos Jetsons. Este é o primeiro de uma série de textos que objetiva discutir o desenvolvimento de combustíveis alternativos. Mais precisamente, a interação entre a indústria da energia (mercado, regulação e política), a indústria do transporte (considerando aspectos da mobilidade urbana) e a promoção de novos combustíveis.  Continue lendo »

Projeção da importação brasileira de gasolina: cenários e impactos

In etanol, gasolina on 11/03/2013 at 00:15

Por Luciano Losekann e Gustavo Haydt

luciano032013Nos últimos dois anos, a importação de gasolina se tornou uma forte preocupação de política energética e econômica no Brasil. Em 2012, foram importados 3,7 bilhões de litros de gasolina A. O dispêndio com importação foi de US$ 2,9 bilhões e 12% da gasolina A utilizada no Brasil foi importada em 2012. Esses valores não eram observados no país desde a década de 1970, quando o país era fortemente dependente de suprimento externo de energia.

A postagem “Oferta apertada de etanol e perspectivas de importação de gasolina” apontou que a importação de gasolina será muito significativa nos próximos anos se a oferta de etanol continuar restringida. Nessa postagem, serão apresentadas as projeções de importação de gasolina em diferentes cenários de oferta de etanol e de mistura de etanol anidro na gasolina.  Além disso, serão estimados o dispêndio com importações e o prejuízo que pode gerar ao importador, a Petrobras, em contexto que os preços internacionais e domésticos estão descolados.

A restrição de oferta de etanol se reflete em seu preço relativo pouco competitivo com a gasolina. Consideramos três possibilidades de preço relativo de etanol: 0,70, 0,75 e 0,80, e duas possibilidades de mistura de etanol anidro, 20% e 25% (E20 e E25). Continue lendo »

Oferta apertada de etanol e perspectivas de importação de gasolina

In etanol, gasolina on 10/12/2012 at 01:31

Por Luciano Losekann

luciano122012Nos últimos dez anos, a balança comercial brasileira de gasolina sofreu uma inversão (figura 1).  Com a introdução do carro flex e quando os preços do etanol eram competitivos, o país produziu excedentes significativos de gasolina para colocação no mercado internacional até 2009. Em 2007, as exportações líquidas de gasolina alcançaram 3,7 bilhões de litros. Valor que não era observado desde o final da década de 1980, quando os automóveis a etanol eram dominantes no Brasil.

Nos últimos três anos, a situação se transformou radicalmente. O etanol pouco competitivo fez o consumo de gasolina disparar. Em 2011, foram importados 1,9 bilhões de litros de gasolina e, em 2012, as importações líquidas atingiram 2,8 bilhões de litros até o mês de outubro.  Segundo nossas estimativas, 11% da gasolina consumida será importada. O Brasil não importava montantes tão significativos de gasolina desde a década de 1970. Continue lendo »

Retomada do mercado de GNV no Brasil

In gás natural, GNV on 12/11/2012 at 00:15

Por Marcelo Colomer 

A partir de 2007, as incertezas a respeito do fornecimento de gás da Bolívia, o aumento dos preços do gás natural no mercado doméstico, a expansão da frota de veículos bicombustíveis (Gasolina/Etanol) e a mídia negativa gerada em torno do uso do gás natural veicular (GNV) reverteram a forte expansão do mercado de GNV que vinha ocorrendo no Brasil desde 2000. Nesse contexto, as conversões anuais, que em 2006 atingiram 271 mil veículos, caíram para menos de 50 mil em 2010 (GASNET, 2012).

Além da queda do número de conversões, houve uma acentuada reversão no volume de gás consumido no segmento veicular que após atingir um pico de 7 MMm3/d em Dezembro de 2007 recuou para cerca de 5 MMm3/d em Janeiro de 2011 (ABEGAS, 2011). Contudo, apesar do cenário adverso do final da década passada, o segmento de gás natural veicular vem sobrevivendo graças aos esforços inovadores das companhias locais de distribuição, dos fornecedores de equipamentos e das montadoras de veículos.

Assim, espera-se que com o desenvolvimento de novas tecnologias de conversão e abastecimento, com o novo cenário de oferta de gás natural e com as novas condições de contorno da política de preços de combustíveis que começam a se delinear no Brasil, o mercado de gás natural veicular se aqueça novamente. Continue lendo »

Expansão do parque de refino brasileiro: uma caminhada para a real autossuficiência

In diesel, gasolina, petróleo on 12/03/2012 at 00:15

Por Marcelo Colomer e Ana Tavares

A recém empossada presidente da Petrobras Graça Foster, em entrevista ao jornal “O Estado de São Paulo”, declarou que caso a Petrobras possuísse mais refinarias com o perfil de produção voltado para o diesel e para a gasolina, a importação desses derivados estaria em um patamar consideravelmente menor e, em consequência, a queda do lucro da empresa que ocorreu no último trimestre de 2011 poderia ter sido minimizada.

Graça também defende que não somente a ampliação do parque de refino nacional irá atender à crescente demanda por combustíveis – entre 2011 e 2010, houve aumento de 6,6% dessa demanda –, mas também o aumento da participação da Petrobras no mercado de etanol, a fim de conceder aos motoristas o poder de escolha nos postos de abastecimento, garantindo de tal forma o equilíbrio econômico aliado a essa crescente demanda.

A fim de garantir o suprimento da demanda interna, houve, no último ano, um aumento de 22% nas importações de barris de petróleo e derivados. Contudo, esse incremento nas importações, principalmente de derivados, não foi acompanhado pelo repasse do aumento dos preços internacionais para o mercado doméstico. Sendo assim, em 2011, verificou-se uma defasagem média real para a gasolina de 15% e, para o diesel, de 16%. Continue lendo »

Crise de oferta no mercado do etanol: conjuntural ou estrutural?

In etanol on 30/05/2011 at 00:15

Por Edmar de AlmeidaThales Viegas

Após queda nos preços do etanol, com o início da safra, a questão que fica para o Governo e para os consumidores é se a crise de oferta do etanol é uma questão conjuntural ou estrutural. Ou seja, este foi um problema pontual referente apenas à última entressafra ou algo que tende a se repetir nos próximos anos.

Para responder a esta pergunta é necessário uma análise mais cuidadosa dos fatores que estão detrás do problema.  A razão básica do recente pico de preços foi o desequilíbrio entre oferta e demanda. Algumas causas deste desequilíbrio são conjunturais. Entretanto, nos parece que existem outras cujos efeitos podem durar por um período mais longo de tempo.

Depois da crise de 2008, a demanda potencial de etanol cresceu muito à frente da oferta de etanol. Em março de 2011, o setor automotivo alcançou a marca de 13,19 milhões de veículos flex-fuel licenciados desde 2003 e a participação destes veículos na frota total de veículos leves alcançou 43%.  Somente em 2010 foram vendidos cerca de 3 milhões de veículos flex-fuel. Continue lendo »

Etanol: de promessa a problema

In etanol on 16/05/2011 at 00:10

Por Luciano Losekann

Até recentemente, o governo brasileiro destacava o país como potência mundial exportadora de etanol. Nesse sentido, em 2007, o governo brasileiro divulgou um estudo que apontava a possibilidade do Brasil atender com etanol a 5% do consumo mundial de gasolina e que, com técnicas mais avançadas, essa participação poderia chegar a 10% em 2025[1], com uma produção de 205 bilhões de litros de etanol no país.

Passados quatro anos, a perspectiva é totalmente distinta. O cenário recente do etanol no Brasil é caracterizado por dificuldades de abastecimento do combustível, preços disparados e necessidade de importação do produto. Continue lendo »

Automóveis flex fuel: entendendo a escolha de combustível

In etanol on 21/03/2011 at 00:05

Por Luciano Losekann e Gustavo Rabello de Castro

Conforme postagem anterior, os modelos que permitem a escolha do combustível utilizado, gasolina ou etanol, dominam as vendas de automóveis no Brasil. Os automóveis flexíveis (flex fuel) já representam 46% da frota brasileira de veículos leves, participação que deve se elevar continuamente.

Assim, grande parte dos proprietários de automóveis pode escolher o combustível que utilizará no momento do abastecimento. Desta forma, a demanda de etanol e gasolina se torna muito mais volátil. Ainda que outros fatores influenciem a escolha do consumidor, como autonomia e impacto ambiental, o preço relativo dos combustíveis é o critério preponderante de escolha.

Como podemos observar na figura 1, a evolução do consumo brasileiro de etanol e gasolina C[1] nos últimos três anos foi bastante influenciada pelo preço relativo do etanol (preço do etanol/preço da gasolina). Nos momentos em que o preço relativo é baixo, aumenta o consumo de etanol e diminui o de gasolina. Ocorrendo o contrário quando o preço relativo sobe. O comportamento do mercado no início de 2010 torna claro esse movimento. O preço relativo aumentou fortemente, fazendo despencar as vendas de etanol e elevar as vendas de gasolina[2]. Continue lendo »

Energia e o transporte automotivo: como contornar a dieselização?

In diesel, petróleo on 06/12/2010 at 00:15

Por Helder Queiroz e Juliana Rodrigues

Dia 9 de novembro passado, a Agência Internacional de Energia (AIE) divulgou seu World Energy Outlook (WEO), contendo as projeções de oferta e de demanda para o horizonte 2035. A divulgação destes cenários é sempre esperada com grande interesse por se tratar de um documento de referência internacional, mas o WEO deste ano suscitava especial interesse devido aos repetidos alertas sobre o contexto de “incertezas sem precedentes”; que já havia sido antecipado pela própria AIE.

Cabe destacar que um aspecto central do WEO 2010 é a ênfase dada à evolução do setor de transporte automotivo. Foi destacado no relatório que “a fundamental shift in transport technology is needed…”. E a direção dessa mudança diz respeito tanto ao incremento da participação dos biocombustíveis quanto ao incremento da frota de carros elétricos e híbridos.

Tal observação nos remete à discussão iniciada na postagem anterior “Energia e transporte: emissões, dependência ou mobilidade? Qual é o problema?” sobre a evolução do transporte automotivo. Como sabemos, o transporte é fortemente dependente dos derivados de petróleo. Na Europa, em particular, ao longo dos últimos vinte anos, o consumo de diesel destinado ao setor de transporte rodoviário mais que dobrou. Esse aumento pode ser explicado por duas razões: (i) forte penetração do diesel no mercado de carros de passeio e, (ii) crescimento da frota de veículos pesados (IFP 2005). Este fenômeno de dieselização da frota contribuiu para a ampliação da dependência destes países vis-à-vis aos derivados de petróleo, em particular com relação ao diesel. Continue lendo »

Energia e transporte: emissões, dependência ou mobilidade? Qual é o problema?

In energia on 18/10/2010 at 00:15

Por Helder Queiroz

Tal como mencionamos num artigo de março de 2010, as políticas energéticas em diferentes países e as estratégias das empresas de energia estão sendo progressivamente reorientadas, a fim de atingir, no longo prazo, padrões de produção e uso de energia que levem em consideração as novas condições de contorno do setor de energia. Surge como principal vetor deste processo de transição o componente tecnológico. Neste sentido, abre-se hoje um leque importante de novas possibilidades tecnológicas que envolvem novas fontes de energia e novos equipamentos. É possível citar como ilustrações exemplares dessa tendência na geração de energia elétrica com: i) o papel esperado de uma contribuição crescente de fontes renováveis; ii) a incorporação de novas tecnologias  em programas de eficiência energética e iii) as transformações esperadas no setor de transporte automotivo.

Este texto está dedicado a análise deste último ponto. Depois de décadas sem transformações significativas, o setor de transportes se encontra, hoje, no centro dos debates acerca de estratégias factíveis que permitam alterar o binômio “motores a combustão-derivados de petróleo”.  Não é por acaso que, dentre as grandes corporações internacionais se encontrem os fabricantes de automóveis e as empresas de petróleo. As vantagens inerentes deste binômio consolidaram um padrão de mobilidade do consumidor individual em torno dos automóveis com motores a combustão. O crescimento da demanda de carros de passeio e da gasolina e do diesel contribuiu, em grande medida, para o sucesso dessas corporações ao longo do século XX. Continue lendo »

Modelos de demanda por combustível no Brasil

In diesel, etanol, gasolina, GNV on 14/06/2010 at 00:15

Por Thaís Vilela

1 – Introdução

A matriz brasileira de combustíveis automotivos passou, e continua passando, por diversas mudanças, ora introduzidas pelo Governo Federal, ora pelas condições de mercado. Neste cenário, a predominância de um combustível em relação a outro mudou ao longo das últimas quatro décadas, tendo sido a falta de um planejamento estratégico bem definido, em relação a essa matriz, a principal responsável pelos diversos processos de substituição entre os combustíveis. Dentro deste contexto, o interesse em avaliar a dinâmica do consumo dos combustíveis automotivos no Brasil é grande, uma vez que o estudo sobre o comportamento do mercado de combustíveis, principalmente com relação à análise de sensibilidade da demanda a variações no preço e na renda, tende a ser uma importante ferramenta de orientação de política para o setor, já que este tema insere-se num contexto mais amplo envolvendo as esferas energéticas, ambientais e de infraestrutura. Continue lendo »