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Entendendo as transformações do setor elétrico em transição

In energia elétrica on 05/11/2020 at 21:41

Clarice Ferraz

A necessidade de descarbonizar as atividades do setor elétrico impôs uma maior participação das energias renováveis variáveis em todo o mundo. Para que o setor elétrico alcance o grau de descarbonização necessário que limite o aquecimento climático em até 2 graus Celsius até 2050, será necessária uma radical transformação das atividades o setor elétrico. De acordo com IRENA (2019), a participação de fontes renováveis para a geração de eletricidade deverá passar de 15 a 85% dos portfolios de geração.  

A imprevisibilidade e a variabilidade da geração impõem adequações físicas para que o sistema elétrico tenha a segurança de abastecimento garantida. As mudanças provocadas pelo avanço da integração das Energias Renováveis Variáveis (ERV) afetam desde a operação e a organização, e estas, por sua vez, impõem consequentemente mudanças nos mercados de eletricidade, além dos exercícios de planejamento de curto, de médio e de longo prazo.  

Ao longo dos últimos 100 anos, os setores elétricos desenvolveram-se em torno de centrais de geração de eletricidade, de grande porte, despachados para atender à demanda de carga dos consumidores. As centrais elétricas despacháveis são alimentadas por diversas fontes como hidroeletricidade, energia nuclear, gás natural, biomassa, etc., e todas utilizam geradores síncronos no ponto de conexão com o sistema elétrico. Esses geradores estocam certa quantidade de energia primária, inercial, ao gerar eletricidade para atender à demanda (Kroposki, 2017: 831).  

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A importância das redes para o sucesso das estratégias de descarbonização do setor elétrico

In energia elétrica on 14/05/2019 at 15:13

Por Clarice Ferraz

clarice052019A crescente eletrificação do consumo de energia associada à necessidade de descarbonização do setor já provoca importantes mudanças nos negócios de empresas de energia ao redor do mundo.

A resposta à necessidade de descarbonização veio sobretudo pelo avanço das novas energias renováveis, através de geração distribuída. A integração desses novos recursos energéticos distribuídos (REDs), marcados pela intermitência de sua geração, traz uma série de novos desafios para o setor de transporte de eletricidade. Como em toda reestruturação, Burger et al. (2018) lembram que “os reguladores e formuladores de políticas devem reconsiderar cuidadosamente como a estrutura da indústria no âmbito da distribuição afeta o planejamento, a coordenação e a operação do sistema, bem como a concorrência, o desenvolvimento do mercado e a eficiência de custos”.

A revolução agora se dá a partir do setor de distribuição e vai a montante afetando os outros componentes do sistema elétrico, com destaque para a transmissão, setor que recebe pouca atenção. Na realidade, são diversas transformações ocorrendo de forma concomitante, o que aumenta sua complexidade e o risco associado às reformas. Continue lendo »

Adaptando estratégias para o equilíbrio do setor elétrico em tempos de incerteza

In energia elétrica on 28/06/2018 at 15:02

Por Clarice Ferraz

clarice072018O último volume do The Energy Journal é integralmente dedicado aos desafios do setor energético em um mundo de incerteza. Creti, Nguyen, e Kilian (2018) destacam que somadas, e relacionadas, às transformações mundiais se encontram as mudanças específicas do setor energético. Nele, os autores destacam três fontes de incerteza: a revolução do óleo não convencional; a financeirização dos mercados futuros de energia e a provável transição para uma economia pouco intensiva em carbono, criando mais atratividade para as fontes renováveis em detrimento das fósseis.

Ao olharmos para o Brasil, às incertezas citadas acima se somam a profunda crise político-institucional e econômica, que afeta negativamente o nível de investimentos de modo geral e, em particular, o setor elétrico, cujo modelo regulatório já mostrava claros sinais de mau funcionamento. O setor elétrico carrega diversos desequilíbrios, e judicializações, e uma grande incerteza quanto à sua futura organização institucional.

O ambiente desfavorável ao investimento constitui uma ameaça à capacidade de se preencher um gap entre oferta e demanda de eletricidade, previsto pelo PDE 2026, para ocorrer partir de 2022/2023, se nada for feito para remediar a situação, como mostra a figura abaixo. Continue lendo »

O Brasil e os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável para a energia (ODS 7)

In energia on 29/03/2018 at 15:18

Por Clarice Ferraz

clarice032018Em setembro de 2015, seguindo reunião da Cúpula das Nações Unidas para o Desenvolvimento Sustentável, após mais de 2 anos de negociações nos quais o Brasil participou de todas as sessões da negociação intergovernamental, foram adotados os “Objetivos de Desenvolvimento Sustentável” (ODS).

Os ODS contemplam 17 objetivos que deverão orientar as políticas nacionais e as atividades de cooperação internacional nos próximos quinze anos, sucedendo e atualizando os “Objetivos de Desenvolvimento do Milênio” (ODM). Os 17 objetivos se desdobram em 169 metas que abordam erradicação da pobreza e redução das desigualdades, padrões sustentáveis de produção e de consumo, mudança do clima, energia, água e saneamento, cidades sustentáveis, crescimento econômico inclusivo, infraestrutura e industrialização, governança, e meios de implementação (Itamaraty, sem data). Continue lendo »

Bioeconomia em construção XIII – Explorando os modelos de negócio circulares nas cadeias dos plásticos: o caso do PET

In biocombustíveis on 25/10/2017 at 19:53

Por José Vitor Bomtempo, Clarice Ferraz e Kamila Komatsu*

vitor102017A Bioeconomia tem compromisso básico com o uso eficiente e sustentável dos recursos biológicos renováveis. Nessa perspectiva, as inovações em bioeconomia tendem a estar alinhadas com os esforços da Economia Circular em promover modelos de negócio circulares. Esses modelos de negócio tentam organizar fluxos circulares nas cadeias produtivas promovendo a redução, o reuso e a reciclagem na utilização dos recursos, em contraposição à lógica linear que prevalece na organização econômica atual. Nessa última, os recursos são explorados para a fabricação de produtos que depois de serem utilizados são descartados e se tornam, ao final do ciclo, resíduos que têm pouco ou nenhum valor.

O uso dos plásticos, material típico da lógica linear, tem apresentado uma taxa de crescimento expressiva desde a metade do século XX. Seu uso aumentou cerca de vinte vezes nos últimos 50 anos, crescendo de 15 milhões de toneladas em 1964 para 322 milhões de toneladas em 2015 e projeta-se que em 20 anos essa quantidade possa dobrar. Continue lendo »

Impactos da adoção de instrumento de precificação de carbono sobre o Setor Elétrico Brasileiro

In energia elétrica on 16/10/2017 at 14:49

Por Clarice Ferraz

clarice102017Diversas iniciativas ao redor do mundo têm discutido como fazer com que os sistemas econômicos reduzam suas emissões poluentes. No setor elétrico, as discussões existem no nível acadêmico; no nível político, onde são formuladas as políticas a serem seguidas e os instrumentos através dos quais se pretende que os objetivos propostos sejam atingidos; e na esfera econômica, onde os agentes discutem como irão adaptar suas atividades atuais e tomar decisões sobre onde realizarão seus investimentos futuros.

Nesse contexto, a definição da política energética é essencial e prioritária. Somente com objetivos bem definidos podemos escolher os melhores instrumentos políticos para atingi-los e, diante disso, os industriais podem pautar suas futuras decisões de investimento. Assim, por exemplo, a participação da fonte solar deverá continuar a crescer, mas não se sabe se o governo irá incentivar o desenvolvimento de uma cadeia industrial local, a exemplo do que foi feito com a energia eólica. Se a questão for somente incentivar a adoção dos sistemas fotovoltaicos, um incentivo destinado aos consumidores pode ser o mais eficiente. Se o objetivo for desenvolver a indústria localmente, outros tipos de incentivos são necessários. Todo instrumento irá criar distorções então é preciso que se saiba claramente quais são trade offs envolvidos, quem serão os ganhadores e quem serão perdedores, e, sobretudo, quais são as prioridades do governo e da sociedade. Continue lendo »

A reforma do setor elétrico brasileiro: O Brasil na contramão do desenvolvimento sustentável

In energia elétrica on 28/06/2017 at 17:30

Por Clarice Ferraz

clarice062017Há tempos tem-se discutido a necessidade de se realizar uma reforma da organização do Setor Elétrico Brasileiro (SEB). Por repetidas vezes, nesses últimos anos, houve risco elevado de ruptura de abastecimento e um aumento muito expressivo do nível de preços do sistema. A estruturação das atividades do SEB em torno de um planejamento centralizado e comandado pelo poder concedente, na figura do MME, tem sido incapaz de garantir a contento a expansão da oferta e a modicidade tarifária.

Além disso, também fracassou no objetivo de aumentar a participação das renováveis na matriz elétrica. Como mostra a figura abaixo, o País é dos poucos países onde a matriz elétrica tem se carbonizado, indo na contramão da evolução tecnológica e da preocupação pelas mudanças climáticas, associadas às emissões poluentes, em que se destacam as emissões provenientes da produção e do consumo de energia. Em um cenário de crescente urbanização e eletrificação, a evolução da composição da matriz de geração do setor elétrico deve receber atenção especial. Continue lendo »

A importância das instituições para a transição energética brasileira

In energia elétrica, Uncategorized on 29/03/2017 at 16:14

Por Clarice Ferraz

Em postagens dos dias 28/09/2015 e 13/07/2015, discutimos aspectos da transição energética e das adaptações à organização do setor elétrico que ela impõe. Na presente postagem, nos dedicamos com mais profundidade à análise das mudanças institucionais que devem ocorrer para que o País avance rumo à descarbonização do seu sistema energético.

Tem-se criado um consenso quanto à necessidade de reforma do sistema elétrico brasileiro (SEB). O marco regulatório, adotado há dez anos, apresenta diversos sinais de esgotamento, tais como desequilíbrios de preços e dificuldade na integração de novas tecnologias de energias renováveis.

As reformas dos mercados de eletricidade são extremamente complexas. É preciso encontrar desenhos de mercado capazes de garantir o equilíbrio do sistema (nos curto, médio e longo prazos), incorporar restrições ambientais (restrições físicas e metas de descarbonização) e atender a demanda, crescente, que muda de perfil. Os múltiplos desafios exigem nível muito elevado de coordenação para serem alcançados, dada a complexidade do conjunto de variáveis supracitadas.

As mudanças que ocorrem no portfólio de recursos da indústria, por sua vez, provocam importantes impactos nos mercados de energia. O aumento da geração intermitente pede ajustes para permitir que os operadores de sistemas adquiram serviços essenciais de confiabilidade para fazer face a episódios de ramping e de ausência de geração, e, também, para compensar os geradores que fornecem esses serviços. Continue lendo »

Crise, instituições e setor elétrico

In energia elétrica on 15/12/2016 at 12:31

Por Clarice Ferraz

clarice122016Os acontecimentos políticos vivenciados ao longos das últimas semanas não deixam dúvidas quanto a perpetuação da desestruturação institucional do País, e da insegurança e da incerteza que ela engendra (Bicalho, 2016).

Nesse cenário de desestruturação institucional, o setor precisa se reorganizar. A agenda do regulador é reflexo disso e está repleta de questões relevantes a serem discutidas. Contemplando apenas as chamadas para os projetos de P&D estratégicos capitaneados pela Agência Nacional de Energia Elétrica, vemos uma para o “Aprimoramento do Ambiente de Negócios do Setor Elétrico Brasileiro” e outra para tratar de “Arranjos Técnicos e Comerciais para a Inserção de Sistemas de Armazenamento de Energia no Setor Elétrico Brasileiro”.

As duas iniciativas revelam o grau de incerteza que atinge os setores elétricos de todos os países diante dos impactos das novas tecnologias de geração e estocagem sobre seus sistemas e seus impactos sobre suas sociedades. Some-se a isso, a degradação de nosso ambiente institucional, a incerteza setorial no Brasil atinge níveis jamais enfrentados anteriormente.

Disponibilidade de eletricidade e desenvolvimento econômico são variáveis indissociáveis. Consequentemente, a confiabilidade do fornecimento de energia constitui peça central das políticas de desenvolvimento econômico dos países. O debate sobre as questões energéticas mundiais tem sido pautado pela evolução da produção e do uso das fontes de energia. Continue lendo »

O avanço da energia solar fotovoltaica no Brasil – Boas ou más notícias?

In energia elétrica, energia solar on 12/09/2016 at 22:04

Por Clarice Ferraz

clarice092016No Setor Elétrico Brasileiro, o ano de 2016 é marcado pela entrada da fonte solar fotovoltaica (FV) no Balanço Energético Nacional (EPE, BEN 2016), como mostra a figura abaixo. Também pela primeira vez, o Brasil acolheu a feira internacional de negócios em energia solar. O evento, realizado em São Paulo, no final de agosto desse ano, mostrou que o interesse pela fonte no País é crescente. Representantes do governo e atores de toda a cadeia comemoraram a sinalização do governo em apoiar o crescimento da fonte, através da continuidade da criação de demanda via o mecanismo de leilão.

Figura 1: Matriz Elétrica Brasileira

clarice092016a

Fonte: EPE, 2016, apresentação Relatório BEN 2016.

Além da modalidade de micro e minigeração, a energia solar fotovoltaica é transacionada através de Leilões de Energia de Reserva (LER), em que a quantidade a ser contratada é definida pelo governo, independentemente da declaração de demanda por distribuidoras de eletricidade. Espera-se que sejam realizados ao menos dois leilões, para a contratação de 1 GW cada, por ano. Esse montante seria o necessário para a estruturação cadeia produtiva. Continue lendo »

Eletricidade e meio ambiente – desafios e oportunidades para o setor elétrico pós COP21

In energia on 06/06/2016 at 18:19

Por Clarice Ferraz

clarice062016Energia e meio ambiente são indissociáveis. O modo como geramos e consumimos energia é determinante no impacto sobre nossa base de recursos naturais e sobre a sustentabilidade das atividades econômicas. Em economia da energia costumamos dar mais atenção à relação entre energia e desenvolvimento econômico, muitas vezes negligenciando o papel essencial do meio ambiente provedor dos recursos naturais que compõem nossa base de recursos energéticos. Obviedades a parte, à ocasião da comemoração do Dia Nacional do Meio Ambiente, cabe refletir como tem evoluído no Brasil a relação entre energia e o meio ambiente.

A fim de explorar um dos muitos elementos dessa equação, a presente postagem se debruça sobre a relação entre o setor elétrico e o meio ambiente no Brasil. Como indicador dessa relação, em harmonia com os acordos internacionais para combater o desequilíbrio climático, iremos analisar como o setor tem incorporado as restrições climáticas em termos de emissões de gases de efeito estufa (GEE) e como tem se preparado para honrar o compromisso assumido com a assinatura da 21Conferência entre os Membros (COP, de Conference of Parties), também conhecida como Protocolo de Paris.

O Protocolo de Paris, aprovado em 14 de dezembro de 2015, foi assinado no último dia 22 de abril por 197 países, um número recorde. Os países signatários se comprometeram a limitar o aumento da temperatura em até 1,5°C. Para que entre em vigor, precisa ser ratificado por 55 países que sejam responsáveis por, pelo menos, 55% das emissões globais. Foram levadas em consideração a responsabilidade histórica de cada país e a alocação ética das responsabilidades compartilhadas, incluindo os direitos das gerações futuras, capacidade econômica e o menor custo possível. Como as emissões de GEE são cumulativas, buscou-se estabelecer um limite máximo, ou “orçamento carbono”, de emissões para cada país. Continue lendo »

O inexorável avanço da microgeração distribuída – Impactos da nova regulação

In energias renováveis on 07/03/2016 at 17:50

Por Clarice Ferraz

clarice032016Em 2012, a edição da Resolução Normativa (REN) 482 da Aneel, que regula as atividade de micro e minigeração distribuída, permitiu que o Brasil finalmente pudesse adotar soluções de suprimento de eletricidade mais sustentáveis. A difusão da adoção dos sistemas de micro e minigeração distribuída (miniGD), entretanto, foi freada por uma série de barreiras, já discutidas em uma série de postagens no Infopetro.

Apesar dos obstáculos existentes, a microgeração avançou de forma importante no ano passado. Em 2015, o número acumulado de conexões chegou a 1.731, crescendo 308% na comparação com o de 2014, de apenas 424 instalações. A potência instalada atual é de 16,5 MW, sendo a fonte solar fotovoltaica (FV) responsável por mais de 96% dessas instalações, com 1.675 adesões e 13,3 MW de potência. Em segundo lugar, veio a energia eólica, com 33 instalações e 121 kW; seguida da biomassa, com 1 MW de potência instalada, com uma única instalação. Os números continuam evoluindo de acordo com essa tendência. Em 18 de fevereiro de 2016, o País já contava com 1.917 instalações de solar FV, das quais 77% encontravam-se no setor residencial e 14%, no setor comercial, todas conectadas em baixa tensão. Continue lendo »

Transição energética e reforma do mercado de eletricidade

In energia elétrica, energias renováveis on 28/09/2015 at 14:20

Por Clarice Ferraz

clarice092015Em suas últimas postagens no Infopetro, Ferraz e Bicalho vêm discutindo o impacto da participação em larga escala das fontes de energia renováveis intermitentes, chamada de “transição energética”. Constatando o inexorável avanço das fontes renováveis nas matrizes elétricas mundial e brasileira, os autores analisaram os impactos que tal transição provoca e sobretudo apontaram a urgência de se adaptar a organização do setor elétrico para que este logre continuar permitindo que se consuma eletricidade “na quantidade que se quer, quando se quer e onde se quer“.

Uma vez apresentados os impactos que a mudança do perfil da oferta provoca, cabe agora estudar os elementos que estruturam a resposta a tais desafios. Em seguida, é necessário verificar se as respostas técnicas e organizacionais que vêm sendo estudadas ao redor do mundo se adequam às particularidades do Setor Elétrico Brasileiro (SEB) e à sua estrutura de financiamento e comercialização.

Como visto anteriormente, a intermitência e a não despachabilidade, características das novas renováveis, afetam a disponibilidade de eletricidade. Assim, para garantir a segurança de abastecimento, é preciso que os sistemas elétricos possuam maior flexibilidade a agilidade de resposta às oscilações da geração. Essa flexibilidade pode ser desenvolvida tanto do lado da oferta como do lado da demanda. Atualmente, as principais opções em oferta de flexibilidade que existem são: Continue lendo »

Expansão da participação das fontes intermitentes: adaptações necessárias

In energia elétrica, energias renováveis on 13/07/2015 at 00:34

Por Clarice Ferraz

clarice072015A crescente participação das novas energias renováveis nas matrizes elétricas ao redor do mundo impõe importantes transformações ao setor elétrico devido às suas especificidades técnicas, sobretudo à intermitência.

Recentes publicações confirmam a tendência de expansão da participação das fontes intermitentes. Estatísticas e projeções apresentadas no relatório New Energy Outlook 2015, da Bloomberg New Energy Finance, preveem que em 25 anos estaremos vivendo em um mundo bastante diferente do atual. Em 2040, a matriz elétrica mundial, hoje composta em dois terços de combustíveis fósseis, passará a contar com 56% de fontes de energia limpa, como ilustram os gráficos abaixo extraídos do relatório. As renováveis serão responsáveis por pouco menos de 60% dos 9.786 GW de nova capacidade instalada de geração que serão construídos ao longo dos próximos 25 anos, e deverão receber dois terços dos US$ 12,2 trilhões em investimentos previstos.

É importante destacar que esse rápido avanço já não se dá em virtude de políticas públicas de incentivo, mas sim por fatores econômicos. Importantes avanços tecnológicos proporcionaram significativas reduções de custos das novas fontes de geração. É o caso da energia eólica na Europa e no Brasil. Aqui a fonte já é a segunda mais competitiva no País, perdendo apenas para hidrelétricas de grandes reservatórios, cuja expansão encontra importantes obstáculos. Como os ganhos de competitividade serão maiores para a fonte solar, o relatório prevê que em 2030 a energia solar fotovoltaica via geração distribuída irá ultrapassar a eólica. Continue lendo »

A resistência à micro e minigeração distribuída no Brasil

In energia elétrica on 06/04/2015 at 00:15

Por Clarice Ferraz

clarice042015As importantes chuvas do mês de março e, sobretudo, a redução do consumo provocada pela crise econômica que o País atravessa, afastaram o risco iminente de racionamento que ameaçava o País. Apesar do alívio momentâneo, a segurança de abastecimento elétrico do País continua frágil devido à fraca oferta de eletricidade e dos baixos níveis de estocagem de água dos reservatórios das barragens hidrelétricas.

Para mitigar o problema, o governo federal e a Aneel tem estimulado a geração distribuída (GD) de eletricidade para que o despacho centralizado da eletricidade das hidrelétricas seja preservado.

Em 10 de fevereiro, o Diretor-geral da Agência, Romeu Rufino, afirmou que o governo federal estava estudando uma série de medidas nesse sentido, como a criação de uma linha de crédito para a aquisição de sistemas fotovoltaicos (FV) para microgeradores de modo a incentivar a geração residencial in situ de eletricidade. Outras medidas seriam a elevação do teto de aquisição de 10% de eletricidade oriunda de GD pelas distribuidoras, assim como a alteração do modo de remuneração dessa eletricidade, atualmente baseada no preço médio da geração centralizada; e, ainda a criação de um mecanismo de incentivo destinado aos consumidores comerciais e industrias, que possuam geradores próprios de eletricidade, para que estes acionem seus equipamentos durante os horários de pico de consumo (atualmente defasados do horário de ponta considerado para a tarifação da eletricidade consumida). Por último, o Diretor mencionou o pedido feito junto ao Ministério de Minas e Energia (MME), para a extensão do horário de verão. Continue lendo »

O Leilão de Reserva e os desafios da estruturação de novas cadeias produtivas

In energia elétrica, energias renováveis on 20/10/2014 at 10:29

Por Clarice Ferraz

clarice102014Como havíamos discutido em nossa última postagem, está prevista a realização do próximo Leilão de Reserva (LER) no dia 31 de outubro. Como podemos ver no gráfico a seguir, os LER vêm crescendo em importância. Criado para cobrir eventuais descasamentos entre a garantia física das centrais de geração e sua geração de eletricidade entregue ao Sistema Integrado Nacional (SIN), diversos fatores têm ampliado essa necessidade de “cobertura”. Assim, apesar de desconhecermos a quantidade a ser contratada, podemos esperar que haja continuidade dessa trajetória. 

Gráfico 1: Leilões de Reserva do Setor Elétrico Brasileiro

clarice102014a

Fonte: EPE, PDE 2022: 102

No próximo LER, vemos o lançamento de, ao menos, uma nova cadeia produtiva no Brasil, a da energia solar fotovoltaica (FV). A biomassa de resíduos (RSU) não atraiu muitos empreendedores, pois o preço teto estipulado pela fonte foi considerado insuficiente.

O LER traz uma particularidade. Em sua primeira etapa, as fontes solar FV e RSU não irão disputar o leilão com a fonte eólica, sabidamente mais competitiva.  O Ministério de Minas e Energia, em sua Portaria 236 de 30 de maio passado, definiu as diretrizes para a metodologia e sistemática deste leilão, cujo detalhamento é dado pela ANEEL. A alocação entre as três fontes respeitará a determinação dos parâmetros definidos pelo MME que determina a “quantidade desejada de energia” (QTD) para cada uma das fontes. Essas são divididas em lotes equivalentes a 0,1 MW médios. Em linhas gerais, uma vez estabelecidos esses parâmetros, passa-se à competição entre as fontes. Para as fontes solar FV e RSU, se a oferta dos empreendimentos cadastrados for maior ou igual à “quantidade desejada” do mesmo produto, o montante que será contratado é a QTD. Caso a oferta não atinja a QTD, será contratado o que foi ofertado e o saldo restante será transferido para a fonte eólica. Continue lendo »

A evolução conservadora da energia solar no Brasil

In energia solar on 11/08/2014 at 15:00

Por Clarice Ferraz

clarice082014O Ministério de Minas e Energia (MME) publicou a Portaria nº 236 (DOU, 30 de maio de 2014) que define as regras para o próximo Leilão de Energia de Reserva a ser realizado no dia 31 de outubro. O Leilão está sendo muito noticiado pois irá contratar eletricidade gerada pelas fontes solar fotovoltaica, eólica e biomassa (resíduos sólidos urbanos e/ou biogás de aterro sanitário ou biodigestores de resíduos vegetais ou animais, assim como lodos de estações de tratamento de esgoto). Foi determinado que os contratos terão duração de 20 anos e início de suprimento em 1º de outubro de 2017.

Ao contemplar fontes renováveis de energia que até então não lograram uma efetiva participação na matriz elétrica do País, o MME as fortalece e envia o sinal de que prioriza uma matriz limpa e diversificada. Várias associações de representantes das indústrias associadas às cadeias de valor das fontes supracitadas se mostram otimistas. No caso da energia solar fotovoltaica, o entusiasmo é grande. Com a redução dos preços dos sistemas fotovoltaicos e o estabelecimento no certame de preços teto compatíveis com seus custos, há grandes chances de usinas solares saírem vencedoras do Leilão.

Desse modo, atores ligados ao setor esperam que, a exemplo do que aconteceu com a energia eólica, o Leilão seja o ponto de partida de uma trajetória de rápido crescimento e desenvolvimento da indústria solar fotovoltaica no Brasil. Além disso, há notícias de criação de linha de financiamento especial do BNDES para a energia solar fotovoltaica, aos moldes do financiamento criado para a estimular o desenvolvimento da indústria eólica no País, o Finame. Continue lendo »

A micro e minigeração solar distribuída e a crise do setor elétrico

In energia solar on 12/05/2014 at 00:15

Por Clarice Ferraz

clarice052014O setor elétrico brasileiro passa por uma crise severa. Do lado da oferta, a geração distribuída pode dar importante contribuição para mitigar os problemas ligados ao forte crescimento do custo marginal de longo-prazo da geração de eletricidade no País[1] e aos riscos de desabastecimento tão discutidos ultimamente.

Associado aos problemas de oferta soma-se o aumento da demanda. A tendência de crescimento da intensidade elétrica dos setores residencial e comercial se confirma. De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o consumo cresceu 4,9% em janeiro e 8,6% em fevereiro com relação ao consumo registrado no mesmo período de 2013. Ao olharmos para os setores residencial e comercial observa-se, em fevereiro, avanço do consumo de 13,3% e 16,6%, respectivamente, o que configura a maior expansão nos últimos dez anos (Brasil Energia, 24.04.2014). Tal crescimento provocou o deslocamento do horário pico de consumo que deixou de situar no período entre 18 e 20 horas para o período da tarde, de 14 às 16 horas, horário de calor intenso. É preciso dar atenção especial a esses setores de consumo. 

A micro e miniGD no Brasil

A micro e minigeração se adéquam a unidades consumidoras de pequeno porte como residências e unidades comerciais. A Aneel considera que a “micro e minigeração distribuída consistem na produção de energia elétrica a partir de pequenas centrais geradoras que utilizam fontes com base em energia hidráulica, solar, eólica, biomassa ou cogeração qualificada, conectadas à rede de distribuição por meio de instalações de unidades consumidoras”. Continue lendo »

Casas inteligentes – elemento chave do setor elétrico

In energia elétrica on 02/12/2013 at 00:15

Por Clarice Ferraz

clarice122013Em postagens anteriores foram discutidos o futuro do setor elétrico, e como o surgimento das redes inteligentes e a introdução da micro-geração distribuída mudam o papel de agentes do setor e suas transações. São particularmente afetadas as empresas de distribuição e os consumidores.

As residências conectadas por redes inteligentes são na realidade o componente final da própria rede. O modo como a energia é consumida, gerada e estocada (ou reinjetada na rede) pelo consumidor final influencia a gestão da rede e é determinante nos problemas de sustentabilidade e segurança energética com os quais a sociedade tem se deparado. Desse modo, cabe a pergunta: o que são as casas inteligentes e quais são suas funções?

O conceito de casa inteligente surgiu há diversas décadas e é anterior ao de redes inteligentes. A visão da casa do futuro era a de uma residência dotada de serviços para facilitar a vida de seus residentes. Atos quotidianos eram automatizados e uma série de novos aparelhos foi introduzida. A incorporação de novos eletrodomésticos, sensores, e aplicativos de automação de diversos aparelhos aumentou a participação do consumo residencial de eletricidade (Faruqui, Hledik, Sergici, 2009).

Em países onde as casas já incorporam o uso de mais eletrodomésticos e de processos automatizados, o consumo de eletricidade avançou rapidamente. Soma-se a esse fenômeno de modernização, o envelhecimento populacional, que faz com as pessoas passem mais tempo em casa, e portanto, contribui para o aumento do consumo de energia. Nesse processo de modernização e automação de diversas ações quotidianas o setor residencial passa a ter um peso maior na demanda global por eletricidade. Continue lendo »

O setor elétrico e as indefinições da política energética

In energia elétrica on 16/09/2013 at 00:15

Por Clarice Ferraz

clarice092013As indefinições do setor elétrico brasileiro têm se ampliado desde a edição da medida provisória 579. Em quatro postagens recentes, que iremos citar ao longo dessa postagem, o Infopetro vem discutindo os problemas do setor elétrico brasileiro e a necessidade de uma reavaliação do seu marco regulatório.

Sabemos que os marcos regulatórios, com seus respectivos desenhos de mercado, são construídos em função das dotações físicas, institucionais e da disponibilidade orçamentária existentes. Assim, quando essas variáveis mudam é possível que o modelo do setor não se adeque à nova realidade e se torne obsoleto, demandando um arranjo regulatório distinto do atual.

Entretanto, antes de se definir qual o modelo institucional que deve ser adotado para o setor, é preciso estabelecer qual é a política energética do País. Focalizando a análise no setor elétrico, é necessário determinar como será realizada a expansão de nossa oferta de eletricidade para atender à demanda, sempre crescente. Investimentos precisam ser realizados e a indústria de equipamentos ligadas às cadeias produtivas das fontes escolhidas precisa se preparar.

Escolhas em indústrias energéticas implicam decisões de longo prazo. Investimentos em infraestrutura energética são capital intensivo e se caracterizam por altos custos afundados. Decisões tomadas hoje irão determinar o perfil de geração e consequentemente os combustíveis que serão utilizados pelos 20 anos seguintes, no mínimo. Em presença de elevado grau de incerteza há duas possibilidades, o investidor mais avesso ao risco se retira do mercado e os dispostos a permanecer exigem retribuição mais alta pelos seus investimentos para que o risco seja remunerado. Quando se busca modicidade tarifária e segurança de abastecimento, nenhuma das duas soluções é ótima. Continue lendo »

Futuros desafios para o setor elétrico: a distribuição

In energia elétrica, energia solar on 24/06/2013 at 00:40

Por Clarice Ferraz

clarice062013O relatório Síntese do Balanço Energético Nacional (BEN, 2013), disponibilizado recentemente pela Empresa de Pesquisa Energética (EPE) revela que o Brasil, assim com a maioria dos países desenvolvidos, tem caminhado para uma maior eletrificação de sua matriz energética. O gráfico abaixo, extraído do Relatório, ilustra a evolução.

Gráfico 1: Evolução do consumo de eletricidade no Brasil em 2012

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Fonte: EPE (2013:30)

Tal “eletrificação” é liderada pelo consumo dos setores industrial e residencial, ambos através da adoção de mais processos automatizados e de novos aparelhos e processos movidos à eletricidade. Ao se modernizarem, essa tendência tende a se acelerar como veremos adiante. Assim, o modo como iremos produzir e consumir eletricidade no futuro irá influenciar fortemente o grau de competitividade de nossa economia, e os impactos ambientais associados ao setor energético. As características de nossa matriz elétrica se tornam cada vez mais relevantes na formulação do planejamento energético do País.

Nos países mais desenvolvidos o tema tem recebido ainda mais destaque e o impacto sobre as empresas distribuidoras de eletricidade começa a ser visto como um possível vetor de ruptura da tradicional estrutura do setor elétrico, tal como o conhecemos atualmente. O World Energy Outlook 2012, também chama atenção para tal fenômeno, entre 2000 e 2012, o consumo de eletricidade aumentou 40% , apesar da desaceleração sentida à partir da crise econômica de 2009 (IEA, 2012:180). Continue lendo »

Solar fotovoltaico: crise ou evolução natural?

In energia solar, energias renováveis on 15/04/2013 at 00:15

Por Clarice Ferraz

clarice042013A indústria solar fotovoltaica chinesa voltou a ganhar destaque nas últimas semanas. Entretanto, ao contrário das notícias de expansão e conquistas de mercados externos (com acusações de práticas de dumping relacionadas à falência de empresas alemãs e americanas) a que estávamos acostumados até 2011, dessa vez, é a falência da chinesa Suntech Power, líder mundial de fabricação de painéis fotovoltaicos, que está em foco. O fato chama atenção para toda a indústria que está passando por profunda crise.

Em realidade ela já dava sinais de que não estava indo muito bem. No ano passado, Siemens havia anunciado o adiamento de seus planos em investir em uma nova planta de produção de painéis de filmes finos e, esse ano, Bosch se retirou do mercado.  Mais recentemente foi Meyer Burger, o fabricante suíço de máquinas de cortar silício (principal tecnologia empregada hoje para a fabricação dos painéis), que revelou grandes perdas (redução de 50% de suas vendas em 2012[1]).

O solar fotovoltaico era visto como uma das soluções para aumentar a oferta de eletricidade, respeitando as restrições de emissões poluentes e demais problemas associados à geração de eletricidade de origem fóssil. O forte declínio desses grandes atores levanta uma série de questionamentos sobre o futuro da indústria e até mesmo sobre a inserção da tecnologia nos setores elétricos. Continue lendo »

Os leilões de energia elétrica e a descentralização da geração

In energia elétrica, energia solar on 03/12/2012 at 00:15

Por Clarice Ferraz

clarice122012No último dia 30 de novembro, em informe à imprensa, a EPE apresentou os empreendimentos habilitados para participar do Leilão de Energia A-5 que será realizado no próximo dia 14 de dezembro.

A análise dos empreendimentos habilitados, apresentados na tabela abaixo, revela a predominância da energia eólica, confirmando a complexificação de parque gerador elétrico brasileiro, apresentada em postagem anterior. Além da predominância de uma só fonte, intermitente – dos 14.181 MW ofertados, 11.879 são de energia eólica -, também é marcante a concentração regional da expansão: 80% da geração eólica se situa na região Nordeste.

Tabela 1: Empreendimentos habilitados para o leilão A-5 de 14 de dezembro 2012:

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Fonte: EPE, Informe à Imprensa, 30/11/2012

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O Plano Decenal de Expansão e a integração das fontes renováveis

In energia elétrica on 01/10/2012 at 00:29

Por Clarice Ferraz

A versão preliminar do Plano Decenal de Expansão (PDE 2021), disponibilizada em Consulta Pública no último dia 26 de setembro pela EPE, revela um expressivo crescimento das fontes de geração de eletricidade de origem renovável na matriz elétrica brasileira. Os gráficos abaixo mostram o mix elétrico atual e projeções para os anos de 2015 e 2021.

Gráficos 1 a 3 : Evolução da capacidade de geração em 2011; 2015 e 2025 (em GW e em %)

Fonte: EPE, PDE 2021: 92.

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Integração de energia solar fotovoltaica em larga escala: a experiência alemã

In energia solar, energias renováveis on 23/07/2012 at 01:21

Por Clarice Ferraz

Há mais de 10 anos, a Alemanha lançou um audacioso plano de apoio à expansão da produção e integração das energias renováveis em sua matriz energética, no qual a eletricidade de origem solar fotovoltaica recebeu atenção especial. Recentemente, “vítima de seu sucesso ” – bastante oneroso, e sofrendo os impactos da crise econômica mundial e europeia, o país está revendo sua política energética.

No momento em que o Brasil aguarda a definição dos critérios para a conexão da micro e minigeração distribuída às redes de distribuição, o caso alemão de integração de larga escala de energias renováveis merece ser analisado com atenção sobretudo por duas razões: o êxito da rápida expansão e integração das fontes renováveis e os problemas que decorreram da falta de limites do programa. É importante lembrar que a Alemanha possui importante nível de atividade industrial forte consumidora de eletricidade, e que é o país que melhor tem enfrentado a crise europeia, apesar de ter os preços de sua eletricidade elevados. Continue lendo »

2012 será o ano da energia solar fotovoltaica no Brasil?

In energia solar, energias renováveis on 09/04/2012 at 00:15

Por Clarice Ferraz

No dia 13 de março, o site bloomberg alardeou o fato de diversos países terem atingido a regra de ouro da “grid parity” para a energia fotovoltaica, e o Brasil é um deles. Isso significa que, em muitos casos, para o consumidor final já vale a pena instalar seus painéis fotovoltaicos, e produzir eletricidade para si próprio, em vez de comprar eletricidade de sua distribuidora. A conexão à rede, entretanto, continua sendo fundamental para atender as demandas de alta potência e cumprir a função de bateria para os sistemas individuais conectados. Continue lendo »